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A transformação acelerada que se reflete diretamente na arte do storytelling

Ao longo dos últimos 200 anos, a inovação tem avançado em um ritmo impressionante, mudando radicalmente o modo como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Essa transformação acelerada se reflete diretamente na arte do storytelling, que também se adapta e evolui à medida que novas tecnologias, como a inteligência artificial (IA), emergem e transformam as possibilidades narrativas. Com base nas 5 Lições de Storytelling, que desenvolvi ao longo de minha carreira, quero compartilhar como temos moldado nossas histórias para atender às expectativas de um público cada vez mais digital e exigente. A era da IA traz desafios, mas também oportunidades fascinantes que, quando bem compreendidas e utilizadas, podem elevar a narrativa a um nível sem precedentes.

A história humana tem sido marcada por longos períodos de estagnação, nos quais o progresso parecia acontecer a passos lentos. No entanto, com a Revolução Industrial e os avanços subsequentes, entramos em uma era de crescimento exponencial. Inovações tecnológicas, antes raras e pontuais, agora ocorrem em uma velocidade e escala nunca vistas. Em storytelling, isso significa que as expectativas do público mudaram profundamente: hoje, não basta uma narrativa linear e tradicional. É necessário que a história seja dinâmica, interativa e, de preferência, personalizada. Ao mesmo tempo, é preciso integrar esse ritmo acelerado à essência do storytelling, mantendo sua capacidade de transmitir emoções, valores e ensinamentos. Para isso, a IA tem se mostrado uma aliada poderosa, oferecendo uma infinidade de dados sobre o que as pessoas esperam, gostam e rejeitam. Utilizar a IA para análise de tendências é, então, um passo essencial, que permite aos criadores de conteúdo captar o pulso do momento e integrar esses insights nas histórias.

Esse processo de adaptação também implica uma reinterpretação do conceito de “explosões combinatórias”, como abordo em 5 Lições de Storytelling. As explosões combinatórias são o resultado de combinar tecnologias e ideias de maneiras inéditas e criativas, o que, em storytelling, significa unir os fundamentos da narrativa clássica com as ferramentas modernas. Antes, um contador de histórias se limitava a palavras e, eventualmente, a imagens estáticas. Hoje, com a IA, podemos criar histórias que respondem ao público em tempo real, ajustando-se a partir de dados e preferências pessoais. Essa possibilidade de personalizar a experiência narrativa permite que cada espectador ou leitor sinta que a história foi feita sob medida para ele. Por exemplo, em uma campanha de marketing, é possível criar uma narrativa que mude seu tom e conteúdo conforme a interação do usuário, aumentando significativamente o engajamento e o impacto da mensagem.

Com o avanço da IA, outro aspecto essencial do storytelling moderno é o princípio da interdependência. Em um mundo onde a inovação ocorre em todos os setores e as fronteiras entre disciplinas estão cada vez mais tênues, a narrativa precisa deixar de ser uma entidade isolada para se tornar um elemento de conexão e colaboração. As histórias devem se adaptar para incluir o público como um participante ativo, não apenas como espectador passivo. A IA possibilita que o feedback em tempo real seja captado e interpretado, permitindo que os contadores de histórias ajustem e aprimorem suas narrativas continuamente. Essa capacidade de resposta cria uma sensação de interdependência entre o criador e o público, onde a história se molda de acordo com as reações e interesses de quem a consome. Ao integrar o público como parte da história, é possível aumentar sua conexão emocional, fazendo com que ele se sinta valorizado e ouvido. No passado, uma história era imutável; uma vez contada, não se alterava. Hoje, com a interatividade que a tecnologia nos proporciona, podemos moldar e "remoldar" as histórias para que elas continuem relevantes e emocionantes ao longo do tempo.

Outra lição de grande valor que aprendi ao longo dos anos é a importância dos “códigos comuns”. No storytelling, um código comum é o que permite que a mensagem seja compreendida e apreciada por diferentes públicos. Na era da IA, isso significa adotar uma linguagem e referências que sejam universais, mas com nuances locais que ressoem com cada audiência. Ferramentas de tradução automática e adaptação cultural oferecem um recurso valioso para criadores que buscam expandir suas narrativas para públicos globais. Isso era algo impensável no passado, quando uma história criada em um idioma e cultura específica dificilmente conseguia o mesmo impacto em outras partes do mundo. Hoje, podemos adaptar instantaneamente o conteúdo, preservando sua essência e garantindo que seja compreensível e impactante para audiências de diferentes culturas. Esse tipo de acessibilidade amplia o alcance das histórias e permite que elas se tornem verdadeiramente universais.

Outro ponto fundamental é a mentalidade de iniciante. Em um mundo onde a tecnologia muda constantemente, manter-se aberto ao novo é essencial para qualquer contador de histórias que deseja se manter relevante. A era da IA trouxe consigo uma série de novas ferramentas e plataformas, e para aproveitá-las ao máximo, precisamos estar dispostos a explorar, aprender e, acima de tudo, experimentar. Como descrevo nos meus livros, uma mentalidade de iniciante nos permite olhar para as estruturas mais complexas de histórias e, agora, para cada nova tecnologia com curiosidade e vontade de aprender, em vez de medo ou resistência. Muitas vezes, esse é o diferencial entre um criador que consegue inovar e outro que fica preso em padrões obsoletos. A inteligência artificial, por exemplo, oferece inúmeras possibilidades, desde a análise preditiva de tendências até a criação de histórias interativas, mas é preciso abordá-la com uma mente aberta, disposta a cometer erros e a aprender com eles. Essa abordagem permite que cada história seja uma nova oportunidade de descoberta, tanto para o criador quanto para o público.

A aplicação desses conceitos no storytelling exige uma prática contínua e refinada. Começa-se com a pesquisa e o planejamento, etapas nas quais a IA pode ser utilizada para monitorar tendências e entender o que realmente importa para o público atual. Isso oferece uma base sólida para a construção da história, que deve seguir os princípios tradicionais do storytelling — uma introdução envolvente, um desenvolvimento consistente e um desfecho impactante. No entanto, a inovação está em personalizar essa estrutura usando dados coletados em tempo real. Se no passado o sucesso de uma história era medido pelo boca a boca ou pelas vendas de ingressos, hoje podemos ajustar a narrativa em tempo real, garantindo que ela atenda às expectativas em constante mudança do público.

Ao publicar a história, as ferramentas de IA permitem captar feedback imediato, ajudando a refinar ainda mais a narrativa. No passado, receber feedback exigia tempo e paciência; hoje, graças à tecnologia, podemos fazer ajustes praticamente instantâneos. Essa capacidade de resposta gera um ciclo de melhoria contínua, no qual a história se adapta, evolui e melhora conforme é consumida. Finalmente, revisamos toda a narrativa com base nas reações do público e na performance da história, aprendendo para futuras produções e garantindo que cada nova história seja mais assertiva e impactante que a anterior.

Ao considerarmos o futuro, o storytelling está à beira de uma revolução. A integração de IA não apenas transformará a maneira como contamos histórias, mas também como as consumimos e nos relacionamos com elas. Imaginemos um cenário no qual a narrativa se ajusta não apenas com base em dados gerais, mas nas emoções específicas de cada indivíduo, captadas em tempo real. O potencial é infinito, mas cabe a nós, como contadores de histórias, adaptar-nos a esse cenário e utilizar essas ferramentas para criar narrativas que continuem emocionando, ensinando e conectando pessoas, mesmo em um mundo que muda a cada instante.

Com o ritmo acelerado de mudanças tecnológicas, o storytelling se torna não só uma habilidade artística, mas uma competência estratégica essencial para o futuro. A seguir, apresento uma lista de dicas e sugestões de estudo que ajudarão qualquer profissional de storytelling a adaptar-se e aproveitar ao máximo o potencial de inovação. Essas recomendações são baseadas nos princípios que explorei em 5 Lições de Storytelling: Habilidades Humanas na Era da IA (o quinto livro da série a ser lançado em 2025) com exemplos práticos para a aplicação imediata no contexto atual, marcado pela influência crescente da inteligência artificial. Você vai ler este excerto em primeira mão!

  1. Adote a IA como Aliada para a Análise de Tendências Compreender o público é o primeiro passo para criar narrativas impactantes. Utilize ferramentas de IA para monitorar tendências de interesse e comportamento. Experimente realizar pesquisas em plataformas de análise de dados para identificar quais tópicos e formatos estão em alta. Esse tipo de abordagem orientada por dados permite que você ajuste o conteúdo de acordo com as expectativas do público, criando histórias que ressoem.
    • Exercício: Use uma ferramenta de análise de dados de redes sociais, como o Google Trends ou o BuzzSumo, para estudar os tópicos mais discutidos nas últimas semanas. Identifique temas que estejam alinhados com seu projeto e crie um esboço de história que incorpore esses interesses.
    • Leitura Recomendada: Data Storytelling for Data Science de Brent Dykes para entender melhor como interpretar e integrar dados em narrativas.
  2. Trabalhe com Explosões Combinatórias para Inovação A inovação não vem só da criação de algo novo, mas da combinação de elementos pré-existentes. Em storytelling, isso significa unir ferramentas tradicionais com novas tecnologias, como a IA. Por exemplo, você pode usar IA para criar histórias personalizadas em tempo real, adaptando detalhes de acordo com a interação do usuário. Isso não só enriquece a experiência como aumenta a relevância da narrativa.
    • Exercício: Escolha uma história que você já escreveu ou planejou e faça adaptações com o uso de ferramentas de personalização, como chatbots ou plataformas interativas. Simule diferentes resultados para explorar como a narrativa pode se transformar com base nas escolhas do público.
    • Leitura Recomendada: Storytelling with Data de Cole Nussbaumer Knaflic, que explora como combinar dados e design para maximizar o impacto visual e emocional das histórias.
  3. Desenvolva uma Mentalidade de Iniciante Na era da IA, a flexibilidade mental e a disposição para aprender são vitais. Cultive a curiosidade em relação a novas ferramentas e tendências. Esta mentalidade aberta o ajudará a experimentar novas abordagens sem preconceitos. À medida que novas tecnologias surgem, como realidade aumentada e inteligência artificial generativa, seu potencial narrativo se expande – basta estar preparado para explorar.
    • Exercício: Escolha uma ferramenta de IA ou uma técnica que você ainda não domina, como geração de conteúdo assistido por IA ou realidade aumentada. Experimente integrar essa ferramenta em um projeto de storytelling. Analise os resultados e identifique as melhorias que essa tecnologia pode oferecer.
    • Leitura Recomendada: Mindset: The New Psychology of Success de Carol Dweck, para entender como uma abordagem mental flexível pode potencializar seu crescimento.
  4. Use Códigos Comuns para Acessibilidade Global Uma história poderosa precisa de uma linguagem acessível para ser compreendida por diferentes públicos. A IA pode ser útil ao adaptar conteúdo para várias culturas e idiomas. Ferramentas de tradução e ajuste cultural são essenciais para levar a narrativa a públicos globais sem perder seu impacto. Esse processo requer adaptação cultural sutil, para que cada audiência se sinta parte da história.
    • Exercício: Escreva uma narrativa curta e use uma ferramenta de tradução assistida por IA, como o DeepL ou o Google Translate, para traduzir e adaptar o conteúdo para outro idioma. Verifique se a essência da história é preservada, ajustando expressões ou referências culturais conforme necessário.
    • Leitura Recomendada: Cultural Intelligence de David C. Thomas e Kerr Inkson, para uma compreensão mais profunda sobre a importância de adaptar histórias a diferentes contextos culturais.
  5. Incorpore a Interdependência para Engajamento Profundo A narrativa moderna não é apenas uma mensagem transmitida, mas uma experiência compartilhada entre o contador e o público. Utilize a interatividade e o feedback em tempo real para moldar a história de acordo com as reações dos espectadores. Essa prática não só aumenta o engajamento, mas torna a narrativa mais relevante, pois reflete o envolvimento e o impacto do público.
    • Exercício: Crie uma história interativa, usando plataformas como o Instagram Stories ou enquetes online, onde o público pode escolher o rumo da narrativa. Acompanhe as escolhas feitas pelo público e avalie como esses feedbacks moldam o desenvolvimento da história.
    • Leitura Recomendada: 5 Lições de Storytelling de James McSill, com foco especial na lição sobre interdependência e o poder das redes cooperativas em histórias colaborativas.
  6. Invista em Competências de Adaptação Estratégica A mudança é a única constante no mundo da inovação. Planejar para o futuro implica definir uma direção, mas não um destino fixo. Como contador de histórias, pense em como a narrativa pode evoluir e se adaptar às mudanças externas e ao feedback contínuo. Estruture seus projetos de forma flexível, de modo que possam ser ajustados sem perder sua essência.
    • Exercício: Escolha um projeto de storytelling longo (como uma série ou campanha de conteúdo) e desenvolva um planejamento flexível. Identifique os pontos nos quais a narrativa pode ser ajustada com base no feedback do público ou nas tendências emergentes.
    • Leitura Recomendada: The Lean Startup de Eric Ries, para aprender como aplicar uma abordagem de testes e ajustes contínuos no desenvolvimento de histórias.

Estudos e Recursos Complementares

Além das dicas práticas e dos exercícios, é essencial que um profissional de storytelling tenha uma base sólida de leitura e estudo sobre inovação e comunicação na era digital. Além dos livros mencionados, recomendo:

  • 5 Lições de Storytelling: Felicidade, Influência e sucesso  by myself :-) , em que ofereço insights sobre como criar histórias persuasivas que capturam a atenção e constroem uma conexão emocional forte.
  • Storyworthy de Matthew Dicks: Um guia prático sobre como construir histórias impactantes e comoventes, ajudando a entender as nuances de narrativas que capturam o público.
  • Storytelling, a Escrita Mágica de Carlos Salas: Expande a compreensão sobre a estrutura narrativa e como transformar ideias em histórias envolventes.
  • Storyworthy Engage de James McSill: Aborda a importância de estruturar uma narrativa focada em engajamento, com dicas sobre como conectar-se com o público na era digital.

Para se preparar e se destacar como um contador de histórias na era da IA, integre esses estudos ao seu dia a dia, aplicando os conceitos apresentados aqui. O futuro do storytelling é dinâmico e colaborativo, exigindo um equilíbrio entre o domínio técnico e a criatividade. A prática contínua, aliada a um aprendizado constante, é o que permitirá que você se adapte e prospere neste campo, utilizando a IA como aliada para contar histórias que realmente ressoem com o mundo.

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james@mcsill.com 

JAMES MCSILL 4 de novembro de 2024
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A experiência profunda da “imersão plena” na criação de histórias