A verdadeira estrutura de uma organização, ou de qualquer ambiente colaborativo, nem sempre é visível aos olhos. Muitas vezes, o que mantém as conexões, inspira e gera impacto não está no que vemos ou no que explicitamente ouvimos, mas no que sentimos e percebemos nas interações e no ambiente. É como um truque de ilusionismo, onde o foco de nossa atenção é desviado enquanto o que realmente importa ocorre de forma sutil, fora do nosso campo de visão. A organização não é apenas o que está formalmente estruturado — processos, cargos, objetivos —, mas o que flui entre as pessoas, na cultura, nos gestos e nas intenções.
Com o passar dos anos, comecei a perceber que algumas das informações mais valiosas sobre organizações e pessoas não estavam no que era dito, mas no que era deixado no ar: um suspiro, uma pausa, uma troca de olhares. Em cada reunião ou visita a um cliente, esses pequenos sinais dizem muito sobre o ambiente organizacional e as verdadeiras necessidades das pessoas envolvidas. E é nesses sinais, no que costumo chamar de "estatística orgânica", que reside um conhecimento profundo, invisível, mas essencial para que qualquer mudança, inovação ou fortalecimento de cultura aconteça de verdade.
A realidade é que grande parte das organizações ainda opera como uma caixa negra, onde a verdadeira essência — composta de pessoas e suas aspirações, frustrações e ideias — permanece ofuscada por processos formais e métricas superficiais. Isso gera uma desconexão. Quando as mudanças tentam ocorrer sem considerar essa rede invisível de sentimentos e motivações, o resultado costuma ser um fracasso previsível, pois a transformação real ocorre quando o visível e o invisível se integra. Assim, noMcSill Story Studio, sempre aprendemos com exemplos concretos de como o invisível molda o sucesso de nossos projetos e a transformação organizacional. Um exemplo que me marcou foi a criação da série LUZ, um projeto que tinha tudo para ser mais uma história convencional sobre amizade e superação. Desde o início, percebemos que os roteiros e diálogos estavam tecnicamente bem estruturados, mas faltava uma profundidade emocional que pudesse tocar o público de forma verdadeira. Algo invisível, mas essencial, não estava lá.
No primeiro estágio, investigamos as percepções e sentimentos da equipa criativa. Chamamos todos para uma conversa aberta e informal, onde discutimos as nossas próprias histórias de superação. Falamos de perdas, de recomeços, de momentos em que a vida nos exigiu força. Foi nesse espaço seguro, onde o invisível — as emoções e experiências pessoais — pôde emergir, que a equipe começou a criar cenas autênticas, repletas de detalhes emocionais que nenhuma técnica narrativa isolada poderia alcançar. Esse é o primeiro passo essencial: criar um espaço onde o invisível seja bem-vindo, onde as pessoas possam trazer à tona o que realmente sentem. Isso não só melhora a qualidade da história, mas também fortalece o comprometimento da equipe com o projeto.
Outro caso significativo foi o desenvolvimento de uma narrativa interativa para um cliente do setor educacional. Na fase inicial, o projeto sofria de desconexão entre as áreas de tecnologia e pedagogia. A equipe técnica estava focada em performance e eficiência, enquanto os pedagogos queriam um espaço de experimentação e liberdade criativa. O resultado? Um ambiente dividido e tenso, onde o progresso era lento e os objetivos divergiam. Percebemos que, antes de prosseguir, precisávamos unir essas duas culturas aparentemente incompatíveis.
Organizamos então um workshop focado em entender o que cada lado valorizava e precisava para o sucesso do projeto. Em vez de impor processos ou regras, escutamos profundamente. As conversas revelaram que a equipe técnica se sentia sobrecarregada com a constante adaptação de última hora, enquanto os pedagogos desejavam uma narrativa mais flexível e adaptável. A partir disso, desenvolvemos um processo híbrido, no qual as duas equipas podiam colaborar em sessões rápidas e focadas. Cada lado tinha voz e contribuía para uma visão comum, o que transformou o ambiente e acelerou o desenvolvimento. Aqui, a chave foi trazer à tona o invisível: as necessidades e frustrações que não estavam sendo verbalizadas, mas que impactavam diretamente no andamento do trabalho.
Para entender como uma transformação completa pode ser feita, um exemplo de fracasso inicial transformado em sucesso aconteceu num projeto para uma multinacional da área de saúde. A equipe estava encarregue de construir uma campanha emocional e convincente sobre cuidados paliativos, mas enfrentava uma barreira interna: o tema era visto como sensível e muitas pessoas evitavam participar ativamente. Houve várias reuniões técnicas, mas tudo soava vazio, sem a empatia necessária para esse tipo de mensagem. Foi quando decidimos mudar a abordagem e propusemos um encontro mais pessoal, no qual colaboradores e stakeholders foram incentivados a compartilhar histórias pessoais sobre cuidados e perda.
Nessa reunião, muitas lágrimas foram derramadas e muitas histórias pessoais vieram à tona. Ao explorar esse invisível — a humanidade e vulnerabilidade das pessoas envolvidas — o projeto mudou completamente. A campanha passou a usar histórias reais, de colaboradores e pacientes, para conectar emocionalmente o público. A aceitação foi massiva, e a campanha tornou-se um case study para a empresa sobre como a autenticidade e o respeito ao invisível criam uma comunicação poderosa. O passo a passo foi claro: criar um espaço seguro para a vulnerabilidade, incorporar essas histórias reais no projeto e permitir que o invisível — as emoções e experiências pessoais — guiasse a narrativa.
Outro exemplo prático ocorreu durante a consultoria para uma startup que desejava revolucionar o mercado de educação online. Os fundadores tinham uma visão inovadora, mas as ideias estavam muito teóricas, e o ambiente interno era focado apenas em resultados rápidos, o que sufocava a criatividade. Observamos que o invisível — as motivações e valores da equipe — não estava alinhado com a execução prática da ideia. Propusemos um exercício de “role reversal”, onde cada membro da equipe assumia o papel de um estudante do público-alvo, vivenciando as dificuldades e frustrações desses jovens. Essa experiência mudou drasticamente o tom do projeto. Os colaboradores passaram a ver o trabalho não só como uma tarefa, mas como uma missão com propósito. O resultado foi um produto muito mais alinhado com as reais necessidades dos estudantes, com uma taxa de adesão bem maior do que o esperado. O invisível — o compromisso emocional com o impacto do projeto — foi o que gerou essa mudança.
O que esses exemplos nos mostram é que o sucesso está em saber identificar o que é invisível e fazer desse invisível um aliado. Não se trata apenas de resultados tangíveis, mas de conectar o propósito de cada pessoa ao projeto, de dar espaço às emoções e percepções. O passo a passo consiste em criar um ambiente seguro, onde todos se sintam à vontade para trazer o que há de mais profundo, escutar atentamente, identificar as necessidades ocultas e integrá-las ao projeto de forma orgânica. Essa é a verdadeira força de uma organização invisível: é aquilo que nos conecta de forma mais humana e que transforma qualquer iniciativa em algo autêntico e impactante.
O Valor do Invisível para a Inovação