No LinkedIn, o que mais se vê são declarações formais, autoelogios disfarçados e anúncios que tentam parecer modestos. Mas, entre um post institucional e outro, quem consegue prender o olhar é quem conta histórias. E não qualquer história — mas aquela que parece íntima, quase uma conversa sussurrada no meio da confusão.
Não há nada mais poderoso do que transformar uma experiência pessoal num ato público de vulnerabilidade estratégica. Isso porque pessoas se conectam com pessoas, e não com cargos, selos ou certificados. O que cria autoridade não é dizer que sabe — é fazer com que o outro sinta que você viveu.
Veja o contraste: “Fui promovido a gerente de projetos após três anos na empresa. Estou muito feliz com esse novo desafio.” Uma linha protocolar como essa talvez traga alguns parabéns automáticos, mas dificilmente constrói algo além disso.
Agora leia esta versão: “Três anos atrás, entrei na empresa com medo de não estar à altura. Na primeira reunião, fiquei calado — não por falta de ideias, mas por insegurança. Um mentor me disse: ‘Você não precisa ser o mais experiente da sala. Só o mais comprometido.’ Desde então, todos os projetos foram uma chance de provar isso. Hoje, recebo a oportunidade de liderar. Não por saber tudo, mas por nunca parar de aprender.”
A diferença está na entrega emocional e na construção de uma narrativa. O leitor não apenas acompanha o feito, ele compartilha a trajetória. Ele se vê ali. E é isso que vende uma ideia. É isso que constrói autoridade: não parecer inalcançável, mas ser reconhecível.
A boa história no LinkedIn parte de um lugar real. Começa com o “antes”, com a dúvida, o fracasso, o erro ou a hesitação. Passa por uma tensão, um dilema, um obstáculo. Depois, revela uma ação ou uma descoberta que, mesmo pequena, muda o curso dos acontecimentos. Por fim, oferece um resultado que não é apenas um troféu, mas uma lição. E fecha com uma nota que convida à reflexão — sem autopromoção forçada, sem frases feitas.
Contar histórias, nesse contexto, não é apenas sobre si. É sobre abrir uma janela em que o outro possa se enxergar.
Mas há um detalhe crucial: o leitor não vai esperar que você “chegue lá”. Ele precisa ser fisgado nas primeiras duas linhas. A técnica da “janela aberta” é valiosa aqui. Em vez de dizer o que aconteceu, comece com o que causaria curiosidade. “Cheguei atrasado para a reunião mais importante da minha vida.” É simples, mas deixa uma porta entreaberta. Quem lê quer saber o que houve.
O impacto não vem da quantidade de feitos, mas da qualidade da conexão. Uma história bem contada no LinkedIn não precisa ser longa, nem épica — mas precisa ser verdadeira.
E essa verdade, quando bem estruturada, é o que transforma leitores em seguidores, e seguidores em aliados, clientes ou parceiros.
Autoridade sem Arrogância
Existe um fio tênue entre parecer competente e soar presunçoso. Muitos profissionais, ao tentarem contar suas histórias no LinkedIn, tropeçam justamente nesse desequilíbrio. Tornam-se seus próprios outdoors: visíveis, mas pouco confiáveis. É o paradoxo da exposição — quanto mais tentamos dizer que somos bons, menos as pessoas acreditam. Porque autoridade, ao contrário do que muitos pensam, não se declara: constrói-se.
E constrói-se, sobretudo, no subtexto.
Quando alguém escreve: “Fui convidado para palestrar no maior evento do setor”, o impacto imediato pode ser de conquista. Mas, se essa afirmação não vier ancorada em contexto, em história, em uma linha de tempo emocional e profissional, ela se transforma rapidamente numa bandeira sem mastro. Voa, mas não se sustenta.
Construir autoridade é, antes de tudo, demonstrar consistência, não exibir troféus. E a forma mais elegante de fazer isso é através da narrativa — aquela que revela o processo, não apenas o resultado. Aquela que mostra as partes não instagramáveis da jornada, os bastidores, os erros, os bastidores emocionais de quem hoje se apresenta como referência em alguma área.
A autoridade silenciosa, aquela que convence sem gritar, está sempre nas entrelinhas. Quando você conta que precisou apresentar um projeto para uma diretoria descrente, e que passou noites em claro para garantir que cada dado estivesse amarrado, o leitor entende o esforço. Quando você narra como enfrentou o medo de falar em público numa conferência pequena, ele compreende o valor do seu nome estar, hoje, em grandes palcos.
Essa construção é muito mais poderosa do que qualquer frase de impacto ou lista de conquistas. Ela ativa, no outro, o que há de mais humano: a empatia. E quem sente empatia por você, escuta o que você tem a dizer — e, mais importante, compra o que você representa.
Autoridade no LinkedIn é, portanto, uma dança entre vulnerabilidade e clareza. É você admitir o frio na barriga, mas mostrar que dançou mesmo assim. É mostrar o tropeço e também o reerguimento. Quem lê quer saber que você chegou lá, sim — mas mais ainda, quer saber como.
E nesse “como”, está o ouro.
Há, porém, uma armadilha frequente nesse percurso: a de parecer sempre vitorioso. O LinkedIn é repleto de “cases de sucesso”, mas falta-lhe “cases de tentativa”. Só que o que humaniza uma marca pessoal é justamente o que falha.
Veja este exemplo. Um consultor escreve: “Ajudei uma empresa a dobrar suas vendas em três meses.” Parece um dado impressionante, mas vazio. Onde está o conflito? Onde está a jornada? E se, em vez disso, ele dissesse: “Quando fui chamado, a equipe comercial estava desmotivada. O gerente havia pedido demissão, os números caíam mês após mês. Passei a primeira semana só ouvindo. Ouvi frustrações, desabafos, medos. Depois disso, construímos juntos um novo roteiro de abordagens. Nada de fórmulas mágicas. Apenas escuta, consistência e foco. Três meses depois, a curva se inverteu. E segue crescendo.”
Percebe a diferença? Na segunda versão, há uma história. Há dor, reação, solução. Há humanidade.
E quando a autoridade nasce da humanidade, ela é muito mais crível.
Outro ponto essencial é o tom. O leitor não tolera condescendência. Frases como “Se eu consegui, qualquer um consegue” podem soar generosas, mas costumam ser vistas como simplistas ou mesmo insensíveis. Nem todos têm os mesmos recursos, os mesmos acessos, os mesmos suportes. Uma frase mais eficaz, porque empática e realista, seria: “Se você ainda não conseguiu, não significa que não é capaz. Às vezes, só falta alguém que acredite junto.”
No jogo da construção de autoridade, as palavras contam, mas o que elas fazem sentir importa muito mais.
Há, também, uma estratégia importante: a da recorrência temática. Pessoas que se tornam referências em suas áreas geralmente falam, direta ou indiretamente, dos mesmos assuntos ao longo do tempo. Elas constroem uma espécie de campo semântico em torno de si. Você lê cinco posts, e sabe do que aquela pessoa trata — e do que ela entende.
É o arquétipo do especialista narrativo. Não é necessário repetir conteúdo. Mas sim permear diferentes histórias com um mesmo eixo. Um designer pode falar de infância, de viagens, de ansiedade — mas em todas essas histórias, o olhar sobre o mundo será estético, visual, funcional. Um líder de equipe pode narrar um momento pessoal de luto, mas sua abordagem falará, no fundo, sobre como gerir emoções e pessoas.
A autoridade nasce, também, dessa coerência editorial. O leitor começa a reconhecer o seu tom, o seu ritmo, o seu ponto de vista. E é isso que o diferencia dos demais — num espaço onde todos parecem dizer tudo.
Mas para que isso funcione, é necessário rigor na edição.
Muitos posts se perdem porque foram escritos com pressa, ou com excesso de floreios. Uma boa história, no LinkedIn, precisa de tensão e ritmo. Deve provocar, mas não alienar. Deve ser clara, mas não banal. Deve ser impactante, mas sempre parecer escrita por alguém que tem o que dizer — e não apenas algo a provar.
Escrever com autoridade, nesse sentido, é quase um ato de escuta. Você escreve, mas ouve o efeito que a sua história causará no outro. Você imagina a leitura em voz baixa, numa tela de celular, no fim de um dia cheio. E, mesmo assim, decide contar algo que valha ser lido.
Autoridade se constrói nessa generosidade.
Por fim, há um segredo simples que poucos lembram: quem escreve com verdade raramente soa arrogante. Porque a verdade tem um tom próprio. Ela não precisa gritar.
O LinkedIn não é o espaço para parecer maior do que é. É o espaço para mostrar o quanto se cresceu. E quem compartilha esse crescimento com humildade e propósito acaba atraindo mais do que atenção. Atrai confiança. E no mundo profissional, confiança vale mais do que curtidas.
Escrita Estratégica
Há quem acredite que escrever para o LinkedIn é simplesmente partilhar uma realização ou opinião. Mas os conteúdos que realmente movem pessoas — e, por consequência, negócios — seguem uma lógica quase invisível: uma arquitetura narrativa precisa, mas sutil.
O segredo está em combinar três ingredientes: história pessoal, valor para o leitor e tom emocionalmente alinhado com a plataforma. O LinkedIn não é um palco de autopromoção, tampouco um diário íntimo. É um híbrido sofisticado: uma espécie de café profissional, onde se conta o que se viveu — mas com consciência de quem está à mesa.
Nesta última parte, ofereço três modelos que podem ser usados como base para os seus posts, cada um com um propósito específico: autoridade, engajamento com ideias, e prova de transformação. Depois, fecho com um checklist editorial, para garantir que cada publicação cumpra o seu papel — e ressoe.
Modelo 1 – Construção de Autoridade sem declarar: “Eu sou bom”
Usado quando você quer consolidar sua imagem profissional de forma discreta, mas potente.
Quando comecei, não sabia sequer como redigir um e-mail técnico sem revisar cinco vezes.
Um gestor paciente me ensinou: clareza é mais importante do que perfeição.
Anos depois, coordenei a comunicação de um projeto com impacto em cinco países.
E sabe o que mais aprendi? Que escrever bem não é dominar palavras bonitas. É respeitar quem lê.
Esse modelo se ancora em três movimentos: vulnerabilidade → aprendizado → transformação com valor. A autoridade surge de forma orgânica, como consequência do percurso, e não como bandeira.
Modelo 2 – Venda de uma ideia ou posicionamento sem parecer panfletário
Ideal quando se deseja defender um ponto de vista ou uma prática, sem afastar quem pensa diferente.
Muita gente ainda acha que "home office" é sinônimo de improdutividade.
Mas produtividade, na verdade, nunca foi uma questão de espaço. É de cultura.
Já trabalhei em escritórios silenciosos e entreguei pouco. E também já produzi meu melhor trabalho entre brinquedos espalhados e o som de uma chaleira.
O que muda não é o lugar — é o grau de confiança entre líder e liderado.
E isso, sim, merece debate.
Neste tipo de texto, a chave está na empatia com os dois lados. Você parte de um preconceito comum, humaniza sua posição com exemplos e termina com uma provocação inteligente, convidando à conversa, não ao confronto.
Modelo 3 – Prova de transformação com impacto emocional e convite à ação
Excelente quando você quer mostrar o poder de um processo, curso, mentoria ou mudança interna.
Antes de aprender a negociar, eu dizia “sim” por medo.
Medo de parecer difícil. Medo de perder oportunidades.
O resultado? Projetos que drenavam minha energia e não pagavam meu valor.
Foi quando ouvi a frase: “Aceitar tudo também é uma forma de desrespeito próprio.”
Desde então, mudei minha forma de escutar, propor, e até recusar.
E hoje, finalmente, sinto que cada contrato assinado começa com respeito — inclusive por mim.
Se você também sente que cede demais, talvez valha repensar o que está realmente negociando.
Esse modelo funciona porque é construído em camadas emocionais. Primeiro a dor, depois a virada, em seguida o insight, e por fim um convite — não para comprar, mas para refletir. Isso cria conexão genuína.
Agora, o checklist editorial — a última revisão antes de clicar em “publicar”
Você pode ter escrito algo autêntico e com boa intenção, mas sem este filtro final, o impacto pode ser diluído. Abaixo, um roteiro simples, mas afiado, para garantir que seu post cumpra o que promete:
1. Está claro para o leitor o que está em jogo?
Se sua história não tem tensão ou dilema, o leitor não se envolverá. Todo bom texto começa com uma pergunta emocional (implícita ou não): “O que vai acontecer aqui?”
2. Você está ensinando algo sem parecer professoral?
Evite soar como quem dá sermão. Prefira o tom de quem compartilha porque aprendeu — e não porque “já sabe tudo”.
3. A sua linguagem está mais próxima da fala do que da tese acadêmica?
Leia o texto em voz alta. Se parecer algo que você não diria num café com colegas, reescreva. O LinkedIn pede naturalidade com precisão, não pompa vazia.
4. Há uma ideia que permanece depois da leitura?
A chamada “mensagem-chave” não precisa ser explícita. Mas o leitor deve terminar o texto com algo na cabeça. Um pensamento, um incômodo, uma inspiração.
5. Você está promovendo algo ou está partilhando algo que promove você?
Lembre-se: um conteúdo bem escrito pode gerar autoridade mesmo sem CTA direto. O contrário raramente funciona.
6. O post tem ritmo e respirações visuais?
Parágrafos curtos, frases que se alternam entre ritmo emocional e informativo, e pausas estratégicas ajudam a leitura. Nunca subestime o poder do espaço em branco.
7. E o título? Ele convida ou repele?
As duas primeiras linhas definem se o post será lido. Evite genéricos como “Uma reflexão” ou “Coisas da vida corporativa”. Prefira algo que levante uma tensão, uma curiosidade, um espanto. “Fui demitido por dizer a verdade.” ou “Minha pior apresentação me trouxe meu melhor cliente.” são títulos que obrigam o olhar a descer.
Se permanece no leitor, permanece no mercado
Você pode não ter milhões de seguidores. Pode não ocupar o topo do organograma. Mas, se suas palavras geram confiança, admiração e vontade de continuar lendo, você está, aos poucos, ocupando um espaço que nenhuma campanha paga consegue comprar: o espaço mental e emocional das pessoas que contam.
Escrever no LinkedIn não é sobre provar que você é um especialista. É sobre permitir que os outros o vejam como tal — sem precisar dizer isso em voz alta.
A melhor autoridade é a que surge quando você escreve não para impressionar, mas para servir. Quando você entrega histórias que ressoam, ideias que iluminam, e reflexões que provocam ação, você não está só publicando. Está construindo legado.
Por que contar histórias no LinkedIn?